Minicontos
Mácula
A intuição de fêmea parecia prenunciar algo muito grave. Moça de famÃlia, Maira temia o pesadelo que sua mente queria esboçar.
O porteiro do condomÃnio, apesar de ter notado a chegada atÃpica dos jovens moradores do pequeno apartamento alugado semanas atrás, era orientado a não se intrometer na vida privada dos inquilinos.
O rapaz que trouxera Maira no colo, deixando-a sentada em frente à TV desligada, logo saiu, sem palavras.
Sozinha, deitara-se ao perceber uma estranha tontura, a sensação de calor nas intimidades e de frio no resto do corpo.
“Por que aceitara fazer aquilo?” – culpava-se.
Maculada, olhou para a mancha vermelha que se formava no branco tapete de pele de ovelha, presente dos pais no último natal.
Havia se afastado da famÃlia e das amigas por insistência do rapaz. Agora estava ali, carecendo de ajuda urgente, talvez de um milagre.
“Meus caminhos serão diferentes” - jurou para si mesma. Sua alma gritava por outra chance, minúscula que fosse.
O vazio que agora havia no lugar da vida arrancada ampliava a solidão agonizante da moça, enquanto sua visão era inundada de escuridão.
E na quietude do condomÃnio, ecoou na mente as últimas palavras que ouvira da mãe: “Cuidado, Maira!”.
E tudo virou silêncio.
Aguiar Cardoso
11/01/2015